Brasil, 19 de Março de 2024
08 de setembro de 2022

Nasce o empoderamento

por Edson T. Beauty

Muito daquilo que nós, brasileiros, fazemos, festejamos, comemos, falamos, pensamos e em que acreditamos é resultado da presença do negro no Brasil. Não é para menos. Os primeiros africanos chegaram ao atual território brasileiro logo no início da colonização, no começo do século XVI, trazidos à força como escravos. Segundo algumas estatísticas, até meados do século XIX, cerca de 10 milhões de africanos desembarcaram em nossas terras, onde acabaram se miscigenando com brancos e indígenas que aqui viviam.

Com isso, por quase quatro séculos, a população do atual Brasil foi predominantemente negra. Essa situação começou a se modificar a partir da segunda metade do século XIX, quando o governo brasileiro decidiu pôr em prática um projeto visando à colonização de algumas áreas vazias do território nacional. Para efetivar essa proposta, e amparado em um conjunto de teorias racistas, o governo incentivou a vinda de europeus. Esses imigrantes, ao mesmo tempo que povoariam o território nacional, promoveriam o embranquecimento da população brasileira.

De fato, o número de brancos no país aumentou substancialmente, a ponto de a população branca ter se transformado em maioria ao longo de boa parte do século XX. Essa maioria branca, porém, não durou muito. Estatísticas recentes do IBGE revelam que hoje o Brasil é, novamente um país negro, uma vez que soma da população preta e parda é superior à população branca. Ainda assim, apesar da presença extremamente marcante em nossa sociedade, pouco conhecemos dos africanos e seus descendentes. É muito comum, nas salas de aulas, vermos a história do negro associada apenas à escravidão. Muitas vezes, ele é mostrado como um ser passivo e submisso, que só apanhava de seus feitores. Muitas crianças e jovens acreditam que esses africanos que vieram para cá como escravos eram oriundos de “povos atrasados e incultos”, que não tinham conhecimento algum.

Quantos alunos conhecem as lutas dos negros por sua liberdade, por exemplo? E os líderes negros que desempenharam importante papel nos diversos momentos da história brasileira? E os conhecimentos na área de metalurgia e agricultura, por exemplo, que os negros trouxeram? E suas crenças religiosas, suas festas, suas danças, seus hábitos alimentares? São coisas tão presentes em nosso dia a dia que muitas vezes esquecemos (ou, pior ainda, sequer sabemos) que têm suas raízes na África

De fato, está na hora de mudarmos essa realidade. Esse ensino que só mostra a história do Brasil segundo a ótica do branco ajuda a reforçar preconceitos e discriminações e contribui extremamente para deixar no chão a autoestima das crianças e dos jovens negros, que acabam não sentindo orgulho de sua origem étnica.

O racismo começa, muitas vezes, a atingir o negro ainda na infância; é o “cabelo ruim” (ruim para quem, afinal?), é a falta de representatividade na grande maioria das mídias, é a subestimação aos elementos da cultura negra. Fatores que geram uma necessidade de se encaixar nos padrões europeus para ser aceito na sociedade. Necessidade essa que nós, negros, se não desenvolvermos e praticarmos a auto aceitação, acabamos carregando a vida toda. O avanço das mulheres e homens AFRODESCENDENTES no Brasil passa por um momento único de desprendimento de uma cultura conservadora que nos últimos 15 anos suprimiu esta liberdade.

O termo EMPODERAMENTO muitas vezes é mal interpretado. Por vezes é entendido como algo individual ou a tomada de poder para se perpetuarem as opressões. Para o feminismo negro, empoderamento possui um significado coletivo. Trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres AFRODECENDENTES como sujeitos ativos de mudança.

É necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano, em nossas experiências habituais no sentido de reivindicar nosso direito à humanidade. Logo, o empoderamento sob essa perspectiva significa o comprometimento com a luta pela equidade. Não é a causa de um indivíduo de forma isolada, mas como ele promove o fortalecimento de outras mulheres com o objetivo de alcançar uma sociedade mais justa para elas. É perceber que uma conquista individual de uma mulher não pode estar descolada da análise política. O empoderamento não pode ser algo autocentrado, parte de uma visão liberal, ou ser somente a transferência de poder. Vai além. Significa ter consciência dos problemas que nos afligem e criar mecanismos para combatê-los.

A sociedade atual está vivendo este momento em que o profissional de crespas e cacheadas junto com a conscientização da mulher preta estão se posicionando de forma a não mais se renderem aos desejos da sociedade e sim os seus próprios desejos. Isso não tem a ver com tamanho de cabelo ou volume, pode estar ligado a cor, comprimento ou ate mesmo a proposta de liso se assim for o desejo, não tem a ver com a imposição do volume na verdade temos que tomar muito cuidado para não criarmos em nossos pares a imposição de algo que não está no coração de tais indivíduos. O empoderamento de uma pessoa nasce do seu reconhecimento de ser capaz de realizar algo que a sociedade (ou parte dela) acredita ser impossível. Se não houver esse momento de reconhecimento de sua própria capacidade não há como existir o empoderamento.

 

 
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